Objectivo: Não entrar para o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-IV-TR)

sábado, setembro 19, 2009

Quem sabe?



Quem sabe se nesta altura não estará mais alguém (quem sabe?) a pensar como eu….
Quem sabe se nesta altura não estará mais alguém a perguntar-se a si mesmo o que se passa. Não é a política, nem o governo. Não é o planeta, nem a terra. Nem todas essas questões que vivem dentro de mim e que me reconhecem.
É algo pior, bem mais amargo. Mais desgastante, ainda que não pareça e possa parecer altamente patético, aos olhos de quem vai com muita pressa, mesmo que não vá a sitio algum.

(Quem sabe?)

Quem sabe se nesta altura não estará alguém num bar a rir desenfreadamente mas com os olhos magoados e a cabeça perdida.

Quem sabe se nesta altura não estará alguém reunido com os seus amigos a conviver alegremente enquanto pensa “O que foi feito de mim?”.

Quem sabe se nesta altura não estará alguém atarefado, trabalhando árdua e disciplinadamente, fazendo um esforço terrível para ela não cair.

Quem sabe se nesta altura não estará alguém sentado num café, a pensar que há coisas que nunca mudam e que estão fora do nosso alcance, apesar do nosso esforço.

Quem sabe se nesta altura não estará alguém a olhar para outro alguém e a pensar… mas porquê?

Quem sabe se nesta altura não estará alguém sentado no canto de uma cama, completamente só.

Quem sabe se nesta altura não estará alguém chorando compulsivamente enquanto sorri aos clientes que passam.

Quem sabe se nesta altura não estará alguém profundamente acabado por nunca ter dito o que devia a quem sentia.

Quem sabe se nesta altura não estará alguém a limpar as lágrimas dos olhos e a tentar outra vez.

Quem sabe se nesta altura não estará alguém a pensar que nunca será o mesmo, nunca será igual.

Quem sabe se nesta altura não estará alguém a telefonar para outro alguém e a desligar a chamada.

Quem sabe se nesta altura não estará alguém com as palavras certas na boca mas a regurgitar todas as outras que estavam entaladas bem lá no fundo.

Quem sabe se nesta altura não estará alguém a abraçar outro alguém e a despedir-se para sempre.

Quem sabe se nesta altura não estará alguém a gritar de sofrimento, sem saber o que fazer.

Quem sabe se nesta altura não estará alguém a sentir.


(Quem sabe?)