Objectivo: Não entrar para o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-IV-TR)

sábado, julho 10, 2010

No room for me




E se atasse as palavras e as enviasse pelo ar. Alinhadas, desalinhadas, cruzadas, espalhadas, juntas, atadas, desatadas... e as arrancasse todas, como se fossem roupas, uma por uma, até ficar sem nada, sem artifícios, com os meus defeitos e outros tantos.

Elas gritariam no meio da rua, subiriam as paredes e abraçariam quem vissem, ricos, pobres, alinhados, desalinhados, perdidos, achados, sozinhos, acompanhados e por um momento seria... apenas seria... sem definições, caracterizações, análises, interpretações...

Elas dariam um pontapé e encontrariam-me, saberiam proteger-me contra males oriundos de orgulhos feridos, podridões e maldades de outros. Salivas amarguradas, cheias de ressentimentos passados, de medos, de tristezas. Ensinariam-me a deixar, a rejeitar, a ignorar, a desvalorizar, a desviar o olhar e a não ferir os meus próprios pensamentos por ouvir sons de flechas amarguradas de outros.


Chega-se a uma altura da vida em que temos a certeza que não somos e nunca seremos a favor da corrente. Não porque adoramos contrariar, piorar, dificultar, complicar, mas porque é mais forte do que nós, faz parte de nós, define-nos e contra isso não podemos fugir... dos nossos defeitos.


quarta-feira, março 24, 2010

Tradução?




Nem sei bem por onde começar, começo por aqui talvez.

Enquanto consultava a Time-Out, reparei que dia 27 Março (já este sábado) é o Dia Mundial do Teatro, também com tantos dias festivos e comemorativos lá me lembrava eu...

Até aqui tudo ok, deparo-me então com uma informação bastante interessante, no Teatro D. Maria II podem-se ver peças à borla nesse dia, a Sério? É que queria mesmo ir ver uma peça que por lá anda... então bastante empolgada enviei um mail para a bilheteira do teatro para saber mais informações. Mas algo aconteceu porque o mail foi devolvido, não entregue. Pronto ok, telefono dps ou tento outra vez amanhã. E talvez tenha tudo começado por aqui porque depois, depois pus-me a sonhar...


Estava eu na fila do Teatro para conseguir um bilhete à borla, estava com mais alguém, sinceramente não me recordo bem. Sentia-me impaciente e só pensava, fogoooooooo é à borla vem tudo, que caraças e enquanto rosnava palavras raivosas a fila ia ficando cada vez mais pequena, até que por fim chegou a minha vez, finalmente!!!

Bastante contente lá fui eu, a subir umas escadas enormes, bommm aquilo parecia um museu, e nem sei se será porque nunca lá entrei. Talvez daí o sururu, o mistério à volta sobre este teatro.

De repente, começo a ver algo bizarro, as pessoas para entrarem para a sala tinham que dar um salto gigante, agarrarem-se a uma corda com nós e subirem rapidamente para um primeiro andar que não se via muito bem. Eu pensei... mas o que é isto?Não deve ser aquilo que estou a pensar... é que ainda por cima não havia chão, as pessoas mandavam-se e tinham que se agarrar à corda porque não havia fundo, era como se estivessemos num 4º andar a mandarmo-nos para o ar e tivessemos que agarrar uma corda que andava a balançar de um lado para o outro.

Eu entrei logo em pânico, eu não consigo eu não consigo, fodassssssssssssse isto não está a acontecer. Mas o que era estranho, era a calma das pessoas, o bom ar, tipo isto é uma entrada normal, uma coisa normal e subiam pela corda com uma rapidez e destreza invejáveis.

A coisa foi piorando porque a fila foi ficando cada vez mais pequena, pequena até que... passei-me por completo e dirigi-me ao director do teatro, que era um actor conhecido mas do qual não me lembro o nome, nem bem da cara sinceramente.

Só sei que me viro para ele e digo, olhe peço imensa desculpa por estar a incomodar, mas sinceramente que raio de entrada é esta? E as pessoas de cadeira de rodas como entram? Mas a senhora está de cadeira de rodas? Não, não estou, mas quero saber como as pessoas de cadeira de rodas entram, isto não tem elevador? ( enquanto pensava para mim, mas será que a segurança social ou a asae não vem inspeccionar isto?). Eu quero subir pelo elevador, mas será que não pensam nas pessoas que têm mobilidade condicionada? Ao qual ele me respondeu com um ar daqueles, sereno, sábio, misterioso como se me quisesse dar um ensinamento qualquer... o autor não se preocupou com os outros, quem se preocupa com os outros? E neste ar meio irónico, meio à mestre, fui-me desviando lentamente, olhando sempre para ele e para aquelas palavras e completamente indignada e furiosa saí do Teatro e só dizia para mim mesma, mas porquê Sara, porque não tentaste, porque não te agarraste, era fácil.


E nisto... acordo!

domingo, março 21, 2010

Uma parte da noite





Grandes encenações, olhares atrevidos, flashes, flashes, flashes, como se o mundo começasse assim, de salto alto e copo na mão.


Altas produções, sorrisos esbeltos enrolados em sacos de plástico que cheiram a mofo, genuinamente importados por qualquer um.


Quando se sai à noite, leva-se somente aquela parte de nós, a outra fica em casa.


A noite não tem espaço para maus momentos, só cenas loucas, brutais, dignas de serem observadas por todos, daí os flashes para depois serem publicados no livro das faces, dessa outra parte de nós que pouco serve mas que muito alimenta.


Na noite, quem ousa desafiá-la e chegar ao seu grupo de amigos um pouco menos feliz, é-lhe imediatamente solucionado o problema... cerveja, vinho... alcool!! E nem vale a pena negar, podemos ser brutalmente esfaqueados com palavras que transtornam a alma, ainda mais.


A noite, cheia de mistérios lunares, de vontades, enfeitiça. Todos ficam subitamente extro, mesmo que sejam intro. E mesmo que não haja o verdadeiro ouro, finge-se com a etiqueta colada do avesso, para ser devolvida no dia seguinte.


O que vale...


O que vale é que nem todas as noites são assim.

sábado, setembro 19, 2009

Quem sabe?



Quem sabe se nesta altura não estará mais alguém (quem sabe?) a pensar como eu….
Quem sabe se nesta altura não estará mais alguém a perguntar-se a si mesmo o que se passa. Não é a política, nem o governo. Não é o planeta, nem a terra. Nem todas essas questões que vivem dentro de mim e que me reconhecem.
É algo pior, bem mais amargo. Mais desgastante, ainda que não pareça e possa parecer altamente patético, aos olhos de quem vai com muita pressa, mesmo que não vá a sitio algum.

(Quem sabe?)

Quem sabe se nesta altura não estará alguém num bar a rir desenfreadamente mas com os olhos magoados e a cabeça perdida.

Quem sabe se nesta altura não estará alguém reunido com os seus amigos a conviver alegremente enquanto pensa “O que foi feito de mim?”.

Quem sabe se nesta altura não estará alguém atarefado, trabalhando árdua e disciplinadamente, fazendo um esforço terrível para ela não cair.

Quem sabe se nesta altura não estará alguém sentado num café, a pensar que há coisas que nunca mudam e que estão fora do nosso alcance, apesar do nosso esforço.

Quem sabe se nesta altura não estará alguém a olhar para outro alguém e a pensar… mas porquê?

Quem sabe se nesta altura não estará alguém sentado no canto de uma cama, completamente só.

Quem sabe se nesta altura não estará alguém chorando compulsivamente enquanto sorri aos clientes que passam.

Quem sabe se nesta altura não estará alguém profundamente acabado por nunca ter dito o que devia a quem sentia.

Quem sabe se nesta altura não estará alguém a limpar as lágrimas dos olhos e a tentar outra vez.

Quem sabe se nesta altura não estará alguém a pensar que nunca será o mesmo, nunca será igual.

Quem sabe se nesta altura não estará alguém a telefonar para outro alguém e a desligar a chamada.

Quem sabe se nesta altura não estará alguém com as palavras certas na boca mas a regurgitar todas as outras que estavam entaladas bem lá no fundo.

Quem sabe se nesta altura não estará alguém a abraçar outro alguém e a despedir-se para sempre.

Quem sabe se nesta altura não estará alguém a gritar de sofrimento, sem saber o que fazer.

Quem sabe se nesta altura não estará alguém a sentir.


(Quem sabe?)

domingo, julho 19, 2009

365


Do nada nasce tudo.

domingo, maio 31, 2009

Já foste salvo?












(Não somos assim tão diferentes)

Já começa a pesar.
Não gozes com a dor dos outros.
A forma como cada um gere as suas dores.
Concentra-te em ti, deixa os outros.
Deixa as dores que não conheces.
Não cuspas palavras com aquele ar superior.
Coisas que não percebes.
Não chegas.
Isto está acima das nuvens.
É magia, é ar puro que não engana.
É respeito fundamentalmente.
Por mais que te sintas uma merda, não gozes com a dor alheia!
Engole essa espuma mortífera e venenosa que trazes dentro de ti.
Por instantes cresce, expande-te, eleva-te e olha para ti.
Que cada um olhe para si e perceba, que se compreenda.
Deixa as dores dos outros, que não deixam de ser as tuas também.
Cospe fogo puro.
Não percebes?
Então tens os valores trocados.
Algo aconteceu.

sábado, abril 25, 2009

Este Sentir

Sinto que somos todos iguais. Apesar dos percursos, das educações e das personalidades distintas, sinto profundamente que todos nós queremos, desejamos, ambicionamos, sonhamos e idealizamos o mesmo, da mesma forma.
Só que depois, às vezes, meto-me a olhar com cuidado no amontoado de pessoas que se juntam em meros metros quadrados, em plena noite, e fico aterrorizada quando percebo que nem tudo é assim. Nem todos sabem, nem todos querem, nem todos se esforçam, nem todos sonham. Essa é que é a realidade. Angustia-me.
Alguns, ou demasiados, somente festejam à bruta, sem limites, e não sabem fazê-lo de outra forma, aliás… não querem fazê-lo de outra forma. Uns porque querem esquecer a vida profissional e pessoal endividada; outros pelo prazer que dá numa vida sem compromissos e responsabilidades, bancada por familiares e/ou terceiros. Sinto que às vezes talvez possa estar equivocada neste raciocínio, na minha humilde ingenuidade. Talvez esteja num mau dia, mal-humorada, desiludida com a vida e tire conclusões drásticas e pessimistas. Mas percebo que não. Certamente que não, sabemos todos que não, infelizmente não estou enganada.
É então nesse momento, nesse instante, que o meu olhar se transforma, fica pequeno, gela. Por momentos morro. Tudo fica pesado e extremamente penoso. Deixo-me ir e imagino-me fora daquele metro quadrado, sentada no meu Mundo a ouvir os meus sons bem mais melódicos do que aqueles que emanam dos corpos das vidas momentâneas onde se perderam os sonhos, venderam-se as almas e cultivou-se a artificialidade, a vulgaridade e a imagem, a qualquer preço. Qualquer corpo serve, desde que sirva. Mas… e os sonhos? Onde ficaram? Porque raio, apesar de tudo, continuo a descobrir no olhar dessas mesmas vidas momentâneas… os sonhos! Serei eu a esforçar-me e a ver o que já não há ou simplesmente a ver claramente o que há e que se pensa que já não existe? Não sei, só sei que fujo, fujo a sete pés desta decadência, corro o mais rápido que posso deixando o cenário para trás. Só que esta vida maldita insiste em perseguir-me, em consumir-me, até me deixar de rastos e exausta, estendida no chão. Faz-me pôr em causa todos os meus ideais, todas as minhas convicções, todos os meus sonhos, toda a minha forma de viver.
Agarro-me com todas as minhas forças a tudo o que estiver ao meu alcance porque sei que, na verdade, continuo igual a mim mesma, desde o dia em que tudo isto começou…



Feliz 25 de Abril!